CONSELHO DE MEDICINA DO ES ANALISA NEGLIGÊNCIA EM MORTE DE ADOLESCENTE:
19/11/2014
No dia em que o adolescente que morreu após ser dispensado de uma triagem na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Serra-Sede, Grande Vitória, foi enterrado, o Conselho Regional de Medicina (CRM-ES) solicitou à Secretaria Municipal de Saúde informações sobre o atendimento prestado e garantiu que, caso fique constatada negligência, irá ingressar com uma ação civil pública contra a prefeitura.
Questionada, a Secretaria Municipal de Saúde da Serra argumentou que, quando não identifica nenhum risco, os enfermeiros das UPAs da Serra têm autonomia para decidir sobre a liberação dos pacientes.
Segundo a mãe, Carlos Henrique começou a se queixar de dor no peito na sexta-feira (14). Por volta das 8h30 de sábado (15), a auxiliar de serviços gerais levou o adolescente até a Upa de Serra Sede, mas, de acordo com Roseni, o filho nem foi examinado. “Levei no Upa, passei naquela classificação e aí a mulher que o atendeu, que eu acho que era uma assistente social, falou que não era urgente. Pedi que fizesse o exame, mas ela deu apenas um encaminhamento para que eu levasse ele no posto de saúde. Simplesmente teve uma conversa e mandou embora”, contou, muito abalada.
Vice-presidente do CRM, o médico Aloizio Faria de Souza condenou a atitude da UPA de liberar o garoto sem que ele passasse por uma avaliação médica. Ele ressaltou que, “em qualquer lugar do mundo”, sintoma de dor no peito é tratado como caso de urgência.
O médico explicou que o Espírito Santo adota o Protocolo de Manchester (classificação de risco) nas UPAs. A norma diz que o enfermeiro com formação superior define se o paciente vai ser atendido com emergência, urgência ou se não há urgência. “No entanto, a classificação de risco não serve como diagnóstico. Apenas avalia sintomas e faz a triagem. Essa criança só poderia ser liberada por um médico”, frisa.
Aloisio apontou que a morte do adolescente é um exemplo do “descaso” do poder público com o sistema público de saúde. “Até que se prove ao contrário, houve negligência. Todos os dias morrem brasileiros e brasileiras, que não deviam morrer, por falta de uma assistência adequada. O responsável é o Estado”.
A secretária de Saúde em exercício pela Serra, Eida Maria Borges, afirmou, por telefone, que tudo será investigado. “Se a enfermeira dispensou é porque ela não identificou nenhum risco. Agora temos que ver por que não identificou, já que a criança veio a óbito. De imediato, não temos como julgar. Durante o processo que abrimos, vamos levantar todas as informações”, afirmou Eida.
No dia da morte da criança, no domingo (16), as duas funcionárias envolvidas no atendimento de Carlos Henrique foram afastadas da UPA. Na ocasião, Eida garantiu que a Secretaria de Saúde vai fazer todo o acompanhamento do caso por meio de uma sindicância.
Ela destacou também que a secretaria vai examinar os prontuários e o laudo médico para verificar se houve falha ou não no atendimento. Também serão ouvidos os familiares do jovem. Ela garantiu que, caso seja constatada negligência, todas as providências necessárias serão tomadas. No entanto, a secretária não informou quanto tempo vai durar essa investigação.
Fonte: G1